segunda-feira, março 21, 2005

Algo Real

Lentamente fecho os olhos e vivo várias analepses, que me remetem a lugares escondidos da minha vida dentro de mim. Revejo cada olhar, cada beijo, cada corpo, cada nova sensação, cada momento, cada pessoa, cada vida...
Há uma lágrima que me escorre pelo face e desce até ao peito que sobe e desce, inflamado com o turbilhão confuso de emoções que se processam dentro de mim.
Perco-me.
E perdida voo para longe de tudo e de todos, de todas as mágoas, de todas as pessoas, de todos os lugares, de todos os sentimentos, de todas as inglórias, de todo o sofrimento... Quando o choque de adrenalina é tão intenso, quando o fogo é tão brilhante, quando a dor é tão penetrante, acontece algo estranho ao nosso corpo que deixa de ter a capacidade de sentir na zona afectada. É esse o fenómeno que me envolve e entorpece quando me perco e voo para longe, na tentativa de chegar perto de mim.
Caiu de joelhos e pergunto aos céus revoltosos porque não posso atingir algo real? Algo que possa chamar meu... Algo de que me possa orgulhar.. Algo a que me possa entregar... Algo real.

sexta-feira, março 18, 2005

Um Sonho

Estou deitada no teu peito com uma mão pousada no teu pescoço e outra na tua barriga. Um dos teus braços rodeia-me as costas e a tua outra mão afaga-me suavemente as temporas e o cabelo. Estamos só os dois rodeados de almofadas deitados no chão do teu quarto, com música ambiente. O cd que está a girar na tua aparelhagem metálica é o da nossa banda preferida.
Ninguém diz nada, porque não há nada a ser dito.
Suavemente sinto as pálpebras a fecharem-se e adormeço cheia de segurança nos teus braços, impregnada com o teu cheiro intenso.
Adormeço e sonho.
Sonho contigo.

terça-feira, março 15, 2005

Por vezes...

Olho em volto para a cidade decadente que me envolve inebriantemente... Olho para a morte e podridão e para as sombras com as quais me mesclo suavemente. Fecho os olhos e não respiro o ar empestado, mas sinto-me protegida pela escuridão, pela sombra, pelos recantos onde me escondo.
Por vezes sinto-me só e abafada pelas sombras... Por vezes apetece-me esticar a mão para apalpar algo real. Por vezes apetecia-me ficar. Por vezes apetecia-me fugir... às vezes arrependo-me e fecho os olhos com força para tentar esquecer.
A ironia da vida persegue-me.
Os sonhos assustam-me.
A realidade sustem-me.
Por vezes duvido do que acredito. Duvido que tudo seja realmente pelo melhor. Duvido que os meus erros possam mesmo ter um propósito. Por vezes duvido que as dúvidas e hesitações sejam correctas. Por vezes duvido dos momentos, demasiado fugazes para serem credíveis... Por vezes duvido de mim e perco-me dentro do cinzento da minha cidade. Por vezes sinto-me rainha e sorrio altivamente apenas para mim. Por vezes gosto de intimidar. Por vezes tenho medo da escuridão na qual me escondo. Por vezes receio que a poeira encobra a luz e me impeça de a descobrir. Por vezes quero realmente estar sozinha. Por vezes acho que tudo é mais fácil se não sentir... Por vezes tudo me parece absurdo e impossível. Por vezes nada faz sentido. Por vezes sinto que o que faço está certo. Por vezes acho que está tudo errado. Por vezes gosto de mim. Por vezes gostava de mudar.
Por vezes afundo-me e por vezes ergo-me mais forte...
Por vezes não consigo dizer nada do que quero...
Por vezes...
Só por vezes...